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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SÉRIE MEDITAÇÕES: A SAGRADA TEOLOGIA




SÉRIE MEDITAÇÕES

A SAGRADA TEOLOGIA

A Sagrada Teologia é o estudo de Deus. Deus Santo, Deus Imortal, Deus de Poder. Senhor do céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis; doador de todos os dons, porque tudo lhe pertence inteiramente, e somente a Ele pertence. Ninguém pode conhecer a Deus em sua Essência, quando muito, podemos conhecê-lo pela fé, seja ela teológica, carismática, ou ainda a fé natural, isto porque Deus se dá conhecer também por meio de suas obras.

Assim sendo, todo conhecimento que temos de Deus é revelação que Deus faz de Si mesmo, seja por suas obras, todas elas maravilhosas; seja por meio de Sua Palavra comunicada na Lei e nos Profetas, seja inda pela experiência de fé do seu povo, e seja, principalmente pelo seu Verbo que se fez Carne, no seio da Virgem Maria, e habita no meio de nós. Pois Jesus Cristo é o ápice da revelação divina; tudo o que Deus quis revelar nos últimos tempos, o fez por meio do Seu Filho amado.

A sagrada Teologia apoia-se, como em seu fundamento perene, na Palavra de Deus escrita e na sagrada Tradição, e nela se consolida firmemente e sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz da fé, toda a verdade contida no mistério de Cristo. As Sagradas Escrituras contêm a palavra de Deus, e, pelo fato de serem inspiradas, são verdadeiramente a palavra de Deus; e por isso, o estudo destes sagrados livros deve ser como que a alma da sagrada teologia. Também o ministério da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora com a palavra da Escritura”. (Constituição Dogmática Dei Verbum)

Portanto, estudar a Sagrada Teologia, guiados pelo Espírito Santo, firmes na fé e em comunhão com a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja, é a vontade de Deus para todos os seus filhos e filhas; a fim de que sigamos Jesus Cristo, seu Filho amado, praticando o que Ele nos ensinou, e vivendo como testemunhas de sua presença em nosso meio, como Ele mesmo disse: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou conosco todos os dias, até o fim do mundo”. (Mt 28,19-20).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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Alegria franciscana


Um dos traços mais bonitos da espiritualidade franciscana é a busca sincera pela verdadeira e perfeita alegria. O seráfico pai São Francisco procurava em toda e qualquer situação seguir bem de perto aquele preceito paulino que diz: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4). Quem não se comove quando escuta o relato da perfeita alegria? Quem não se encanta com a cena do Natal de Gréccio, quando o santo, radiante de alegria, cantou o Evangelho e pregou sobre o Menino de Belém? Saudável ou doente, atribulado ou tranquilo Francisco procurou sempre conservar dentro de si uma profunda e santa alegria.
Todos os antigos testemunhos sobre São Francisco nos apresentam um homem que traz em si uma forte emotividade. Quando estava radiante de júbilo, cantava em francês. Quando se lembrava da Paixão de Jesus, chorava copiosamente. Diante da beleza das criaturas ele exultava no Senhor, e convidava a todos ao louvor. Foi o cantor do irmão sol, da irmã lua, das estrelas e até da irmã morte. Foi o santo da espontaneidade, da ternura, da liberdade, que não receou em pedir à senhora Jacoba, bem próximo de sua morte, que lhe trouxesse algumas iguarias preferidas.
Para este santo as criaturas nunca foram obstáculos para o perfeito amor a Deus. Pelo contrário, ele se irmanou a todas elas e enxergou em cada uma os traços do Criador. Tomás de Celano nos informa que certa vez São Francisco, passando pelo vale de Espoleto, e vendo inúmeras aves “correu alegremente até elas, tendo deixado os companheiros na estrada (...) repleto de enorme alegria, rogou-lhes humildemente que ouvissem a palavra de Deus” (1Celano 58). Este mesmo autor nos diz que São Francisco “enchia-se muitas vezes de admirável e inefável alegria, quando olhava o sol, quando via a lua, quando contemplava as estrelas e o firmamento” (1Celano 80).
Outro motivo de alegria para São Francisco era a companhia de seus irmãos. Celano nos diz que, quando frei Bernardo, primeiro companheiro do santo, se converteu, “São Francisco alegrou-se com júbilo muito grande com a chegada e a conversão de tão grande homem” (1Celano 24). Essa mesma alegria ele sentia com a chegada dos demais irmãos (cf. 1Celano 31). E quando ouvia boas notícias a respeito de seus frades? Ele sentia sua alma banhada de santa de alegria. Certo dia, depois de ouvir exemplos edificantes dos frades da Espanha, exclamou: “Graças vos dou, Senhor, santificador e guia dos pobres, que me alegraste com esta notícia a respeito de meus irmãos” (2Celano 178).
Para São Francisco a simplicidade, a pobreza e a humildade devem ser vividas alegremente: “Onde há pobreza com alegria, aí não há nem ganância nem avareza” (Admoestação 27). Também a companhia dos mais pobres e simples deveria ser fonte de alegria para os irmãos menores: “E devem alegrar-se, quando conviverem entre pessoas insignificantes e desprezadas, entre pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam pela rua” (Regra não Bulada 9).
Na Regra mais antiga da Ordem há um conselho do santo que diz: “E cuidem para não se mostrar exteriormente tristes e sombriamente hipócritas; mas mostrem-se alegres no Senhor, sorridentes e convenientemente simpáticos” (Regra não Bulada 7). O próprio santo tinha o cuidado de não ficar triste diante dos seus irmãos. Certa vez, morando em Santa Maria dos Anjos, sofreu por dois anos uma terrível tentação. Diz um antigo hagiógrafo: “Em vista disso, era tão atormentado na mente e no corpo que, muitas vezes, se afastava da companhia dos irmãos, porque não podia mostrar-se a eles alegre como costumava” (Espelho de Perfeição 99).

Tomás de Celano afirma que São Francisco “esforçava-se por manter-se sempre na alegria do coração, por conservar a unção do espírito e o óleo da alegria. Com o máximo cuidado evitava a péssima doença da tristeza” (2Celano 125,7-80). Este mesmo autor nos informa que o seráfico pai ensinava aos frades que “os demônios não podem ofender o servo de Cristo, quando o virem repleto de santa alegria” (2Celano 125,5).
Que o Pobrezinho de Assis nos ajude a conservar um coração sereno e alegre, pobre e generoso, aberto para Deus e para os irmãos. Contagiados pela alegria franciscana, saiamos pelo mundo cantando a paz e o bem.
Pax et Bonum
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho
Extraído de http://escolafranciscanademeditacao.blogspot.com.br/2012/11/alegria-franciscana-um-dos-tracos-mais.html acesso em 28 nov. 2012.

Por que o Natal?

Frei Dorvalino Fassini, OFM
Próximos de mais um Natal começam as correrias... os esquecimentos... Vem ano vai ano, vem Natal e vai Natal uma questão não deveríamos, porém, jamais esquecer: O que significa o Nascimento do Menino Deus? Por que Deus quis fazer-se homem? Sim, é preciso parar e, de novo, de joelhos, contemplar sua aparência frágil de menino e perguntar-nos acerca de sua causa ou razão?

Quem fez isso com muita devoção e comoção foi São Francisco, chegando a inventar e representar, pela primeira vez na história, o “Presépio vivo”. Por isso, ele e toda aquela primeira geração de frades e irmãs, descobriram o segredo desse mistério: a paixão. Deus, o nosso Deus é um apaixonado pelo nosso humano, principalmente pelo humano sofrido, fragilizado, decaído, abandonado, humilhado, desprezado e pecador. Sim, só um apaixonado pode entrar numa aventura dessas e fazer o que Ele fez: vir a nós nessa fragilidade toda de menino nascido à beira do caminho, percorrer o caminho da vida pública sem mesmo ter uma pedra para reclinar a cabeça, morrer numa cruz e continuar sendo Deus-conosco na Igreja santa e pecadora, no pão eucarístico e em toda e qualquer criatura humana.

Por isso, Francisco chorava a Paixão do seu Senhor e fez dela a Paixão, o sentido maior de toda a sua vida. Vem-nos, então a pergunta: e nós, a quem realmente amamos e dedicamos nossa afeição e paixão maior?

domingo, 25 de novembro de 2012

Jorge de Lima

Francisco fez poesias. Mas se não tivesse feito poesia, era do mesmo poeta. Pois viveu a vida de um poeta, de um poeta de verdade.

sábado, 24 de novembro de 2012

SÉRIE MEDITAÇÕES: CONHECENDO OS MANDAMENTOS...



SÉRIE MEDITAÇÕES

CONHECENDO OS MANDAMENTOS...

Os Santos Mandamentos são Leis Divinas que nos ensinam a verdade da fé e como devemos vive-la. Ora, todas as criaturas de Deus já trazem implícitas suas leis naturais em seu código genético; e em sua alma as leis divinas pelas quais conhecemos a Deus. Nossas almas têm três propriedades essenciais, volitiva que corresponde à vontade, intelectiva que corresponde à inteligência; e apetitiva que corresponde aos desejos. Essas três propriedades são livres e é por elas que tomamos nossas decisões. Nada acontece em nossa vida sem que antes decidamos, e, mesmo quando nos omitimos, as coisas adversas que se dão, são fruto de nossa decisão pela omissão.

Portanto, o livre arbítrio é a maior fonte de liberdade ou da perca dela, dependendo sempre do que decidimos. Por isso, tudo depende de nós no que diz respeito ao ser e estar na vida e no mundo. Porém, devido à nossa contingência, a providência divina nos auxilia para não perdermos nossa autonomia de criaturas; alguns até chamam isso de sorte, na verdade, trata-se tão somente da divina providência, que criou tudo para a existência e não quer que ninguém se perca ou se autodestrua.

Então, vamos aos mandamentos, pois estes são verdades de fé reveladas; porém, não podemos esquecer que eles já se encontram implícitos no âmago de nosso ser, e Deus apenas no-los deu conhecer explicitamente para regrarmos nossa existência e assim poder mantê-la na verdade e justiça, para assim evitarmos os danos que o não cumprimento deles acarreta em nossa vida.

Primeiro Mandamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. (Deut 6,5). O amor a Deus está acima de todas as coisas, porque nada se compara ao Criador que é bendito para sempre. Cabe a nós, suas criaturas amadas, amar a Deus e a tudo o que Deus ama, porque sem este amor não existe vida nem perspectiva dela, mas somente o caos.

Segundo Mandamento: Não tomar seu Santo Nome em vão. Isto significa, trazer o santo temor do Senhor em nossas almas, pois onde não existe respeito também não existe reconhecimento e amor. Deus é Deus e é digno de toda reverência e adoração, por isso, não podemos usar o nome de Deus e de seus santos para nada que não seja sua vontade. Pois aqui tudo passa, mas em direção à eternidade, onde prestaremos contas no dia do juízo final de tudo aquilo que aqui falamos ou fizemos. (cf. Mt 12,33-37; 1Cor 4,1-5; Heb 9,27).

Terceiro Mandamento: Guardar domingos e festas. Ou seja, Deus nos dá todo dia vinte e quatro horas e enquanto aqui estivermos nunca deixará de fazê-lo; e nós quanto desse tempo damos a Deus? Nos domingos e festas, Deus marca um encontro pessoal conosco por esse mandamento para nos perdoar, nos ensinar, nos alimentar e proteger; e nós, vamos ao seu encontro nesses dias ou o deixamos esperando ou mesmo chegamos atrasados? Quem quer ser abençoado procura sua benção, quem a rejeita vive lhe dando as costas e nunca cresce na graça, no conhecimento, na sabedoria e na vivência da fé, porque anda na contra mão do Reino de Deus.

Quarto Mandamento: Honra teu pai e tua mãe. O dever de honra é nosso, porque eles já nos deram o direito à vida cooperando com Deus no nosso nascimento, e pelos benefícios que nos fazem a vida inteira; em contra partida, o que lhes damos? Falando sobre este mandamento escreveu São Paulo: “Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo. O primeiro mandamento acompanhado de uma promessa é: Honra teu pai e tua mãe, para que sejas feliz e tenhas longa vida sobre a terra” (Dt 5,16).(Ef 6,1-3). Portanto, em relação aos nossos pais só temos deveres, porque deles já recebemos todos os direitos, inclusive o de herança quando deixam este mundo.

Quinto Mandamento: Não matarás. A vida a Deus pertence e somente a Ele pertence, ninguém tem o direito de tira-la; cabe a Deus e tão somente a Ele dá-lhe o fim determinado. Não julgue, não condene, não mate ninguém, seja por palavras, atos e intenções, porque “quem com o ferro fere, com ele será ferido” (Mt 26,52). Antes, pelo contrário, sejamos misericordiosos e compassivos uns com os outros, perdoando-nos mutuamente.

Sexto Mandamento: Não pecar contra a castidade. Uma alma casta é uma alma inacessível ao mal, pois, habitada pelo Espírito Santo, vive o prazer dessa santa habitação e nada se compara a esse divino prazer. De fato, somos um misto de carne e espírito; temporalidade e eternidade, todavia, deve se sobressair aquilo que em nós não perece, pois tudo o que é carnal é passageiro e não satisfaz, porque não preenche nosso desejo de felicidade permanente. Portanto, somente o Espírito Santo preenche totalmente o nosso viver, porque nós somos seus templos vivos.

Sétimo Mandamento: Não furtar. Tudo o que é material tem o fim que lhe é próprio conforme a natureza das coisas; no entanto, existem valores em nós que são eternos, dentre estes está a honestidade, fonte de liberdade para quem a cultiva. Ser honesto é ser livre de todos os apegos materiais, é viver a simplicidade de ser o que somos aos olhos de Deus, sabendo que Ele cuida muito bem de nós por sua divina providência. Nada mais fútil do que se prender à coisas materiais, fruto do roubo ou mesmo do egoísmo que corrói a dignidade e a autoestima de nossa humanidade.

Oitavo Mandamento: Não levantar falso testemunho. A mentira é a pior de todas as armadilhas que o demônio tem posto diante dos homens, querendo nos enganar e impedir que a verdade nos conduza. Nenhum mentiroso vive sossegado, pois o demônio, pai da mentira, lhe atormenta dia e noite, tirando-lhe toda paz. Ora, o Espírito da verdade é o Espírito de Deus que acompanha seus filhos e filhas conduzindo-os à felicidade eterna. Quem vive na mentira e da mentira, nunca se encontra e nem encontra Deus, por isso, vive sem rumo e sem vida; pelo contrário, a verdade liberta e salva sempre, porque todo aquele que se entrega ela e se deixa conduzir por ela tem a vida eterna. A verdade é o próprio Deus, pois assim disse o Senhor Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. (Jo 14,6).

Nono Mandamento: Não desejar a mulher do próximo nem o marido da próxima. A traição é uma das piores maldades do ser humano na face da terra, ela, na verdade, é uma tragédia perversa repleta de desunião e dor. Ao contrário, a união sacramental legítima é uma fonte de felicidade, porque é na fidelidade que se fundamenta e cresce a família humana. Deus criou o homem e a mulher para formar família, sua família, por isso, os criou à sua imagem e semelhança. Uma família bem estruturada na fé dá frutos fecundos de felicidade, porque quem é fiel serve a Deus e vive Dele, Nele e para Ele. Sem fidelidade não há verdade, não há amor, não há liberdade, não há vida, não há nada de bom.

Décimo Mandamento: Não cobiçar as coisas alheias. Segundo São Paulo, o pecado da cobiça assemelha-se ao pecado da idolatria, porque gera a morte da alma. Na cobiça se encontra o cúmulo do egoísmo, pois, nela, os bens materiais se tornam somente fonte de lucro, consumismo, prazer hediondo e nada mais. De fato, a sentença do Senhor: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto...” (Gen 3,19a), dignifica o ser humano e o leva a viver com equilíbrio e bem estar a vida que de Deus recebeu, sem egoísmo algum.

***
Aqui estão estas simples meditações sobre os Santos Mandamentos da Lei de Deus, elas nos ajudarão a viver a nossa fé conforme a vontade do Senhor expressa neles. Pois, como disse São João: ”Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Eis o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos. E seus mandamentos não são penosos, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. (1Jo 5,2-4).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Alceu Amoroso Lima

Onde outros dariam ou deram o seu saber, a sua astúcia, a sua coragem, Francisco deu apenas isso: o seu coração. Esse ISSO revolucionou a História. Com sua fé infantil, renovou a alma e o mundo. Por isso é tão atual no século XX quanto foi no século XIII.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

SÉRIE MEDITAÇÕES: O AMOR, A VERDADE E OUTRAS VIRTUDES (CONTINUIDADE)...



SÉRIE MEDITAÇÕES

O AMOR, A VERDADE E OUTRAS VIRTUDES (CONTINUIDADE)...


JUSTIÇA

A Justiça dá a cada ser o que lhe é devido na medida certa...
Por isso, Ela busca sempre a verdade dos fatos, porque esta lhe dá a capacidade de ação para o bem estar de todos...
Repara o mal que de fato houve...
Pune o que devido, liberta o que preciso...
Assim é e sempre será a Justiça...
Destarte, só Deus é Justo, e por seu Filho Jesus Cristo,
Justifica todos os injustiçados... (cf. Mt 5,6)

PIEDADE

A Piedade é a verdade em oração no coração das almas santas...
Uma alma piedosa ama a Deus com profunda reverência...
Clama por sua clemência, e se põe à disposição de sua vontade...
Cresce na intimidade e no fervor, e sabe guardar com amor todas as pérolas divinas que lhes são confiadas, não as atirando aos porcos...
Todavia as multiplica pela oração,
Ornando com a unção divina e salutar as almas mais necessitadas...


A Fé é como um expectorante para a alma,
visto que põe para fora dela toda desconfiança,
firmando-a na esperança que não decepciona....
Isto porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações,
pelo Espírito Santo que nos foi dado...(cf. Rom 5,5).
A fé tudo alcança, porque obtém de Deus todo poder,
Por isso, tudo é possível ao que crer...

ESPERANÇA

A Esperança é alma gêmea da fé,
porque tem certeza do que não vê...
Diz o ditado popular: quem espera em Deus nunca cansa,
porque Deus não falha nunca...
A esperança também se chama convicção,
porque quem espera em Deus nunca duvida de suas promessas,
pois sabe que elas são o motivo e o fundamento de sua aliança conosco...

CARIDADE

A Caridade é o amor assistindo as necessidades,
reparando as injustiças e imperfeições dos homens...
Ela por sua vez é assistida pela Providência Divina,
que consola os corações caridosos pelo milagre do bem feito aos mais necessitados...
Ela é como que a mão do Senhor a socorre-nos em seu amor...
Pela caridade somos anjos de resgate...
Apoiando os caídos, assistindo os desvalidos,
libertando os oprimidos que o egoísmo de alguns mutilou...
A caridade nunca passa, até que cheguemos ao céu...
Todavia, não busque nela alguma salvação pessoal,
Pois ninguém é salvo pelas obras...
Porém, convém saber que as boas obras só existem,
porque fomos salvos por Jesus Cristo, o Filho de Deus...

TEMPERANÇA

A Temperança é o equilíbrio perfeito entre os desejos da carne e os do Espírito; isto porque a aspiração da carne é a morte; enquanto a aspiração do Espirito é a vida e a paz; pois a carne (concupiscência) não se submente à Lei de Deus e nem o pode, porque os que vivem segundo a carne rejeitam as graças do Espírito de Deus...

“Portanto, irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. (Rom 8,12-14).

SOBRIEDADE, MODÉSTIA

Em cada área do nosso ser existe a possibilidade do prazer, pois o dom de sentir prazer é um dom que Deus nos deu, e que gera em nós certa satisfação prazerosa, isto é, certa sensação de felicidade. Todavia, é preciso que haja equilíbrio em todos os nossos sentidos para que estas sensações não se transformem em fuga de nós mesmos, dos outros e de Deus; ou mesmo desemboquem nos vícios que levam ao precipício da perca de liberdade, porque toda sensibilidade carnal é passageira e fugaz, quando não equilibrada pela sobriedade.

A Sobriedade é a virtude que Deus nos deixou para não nos afastarmos do seu amor, que é a nossa eterna fonte de felicidade. É ela que nos equilibra e nos conduz à moderação no comer e beber; no pensar e falar; no olhar e sentir; no vestir e se portar. A sobriedade é prima irmã da modéstia, pois esta faz a festa da graça de Deus em nossas almas. (cf. Rom 12,16).

MANSIDÃO

Quem vive cultivando a virtude da Mansidão tem seu coração em Deus, que nos ensina por seu Filho amado, a nunca nos alterarmos em meio aos desequilíbrios dos homens (cf. Mt 11,28-30). Essa virtude vem também acompanhada de uma promessa, os mansos possuirão a terra, indício da posse do céu, terra eterna prometida por Deus aos filhos seus (cf. Mt 5,5; 2Ped 3,11ss).

INOCÊNCIA

A inocência nos torna imunes à todo tipo de perseguição e violência, porque todo inocente é livre e tem na inocência sua maior defesa. Alguém é inocente quando vive a verdade diante de Deus e dos homens, porque o fato de existir naturalmente já é a verdade em si. Todavia, precisamos vive-la com ela é, transparente sempre, como o próprio Deus. Os mais temidos dos homens são os inocentes, porque até mesmo o seu silêncio causa tortura aos seus algozes. Por isso, todo inocente é invencível, pois nem a morte o poderá destruir.


PENITÊNCIA

Jesus começou seu ministério nos ensinando a fazer penitência: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”. (Mc 1,15).

Como vimos nesse ensinamento do Senhor, a penitência é o reforço da fé, pois o verdadeiro arrependimento precisa de penitência para que haja verdadeira conversão. Não basta dizer, “creio em Jesus Cristo”; pois, a fé é muito mais do que uma simples afirmação; ela precisa do esforço da alma penitente para se firmar e crescer na graça santificante, e dar os frutos da adesão ao Senhor, por meio da vivência do seu evangelho. Fazer penitência é vencer-se a si mesmo, como nos ensinou São Francisco de Assis, em sua décima Admoestação: “O pior inimigo do homem é ele mesmo, vence-te a ti mesmo e vencerás todos os teus inimigos visíveis e invisíveis”. Porquanto, ajuda-nos Senhor a penitenciar-nos em tua presença, pois sem Ti nada podemos fazer (cf. Jo 15,5).

PRUDÊNCIA

A Prudência é a aliada que perpassa todas as outras virtudes...
Por ela ninguém erra...
Por ela evita-se a dúvida atroz e o desengano...
Porque a Prudência nos faz atentos, nos dá alento para decidirmos somente pela vontade de Deus...
Desse modo, Ela é o discernimento perfeito e a razão de ser do equilíbrio de todas as outras virtudes em nossa vida...

COERÊNCIA

A Coerência é a autêntica vivência da fé, é ela a despenseira de todas as graças, para darmos os frutos de santidade que o Senhor nos concede na Santa Comunhão. Ela é o motivo de sermos recebidos e atendidos diante de Deus. Por ela somos livres desde já de todo julgamento diante do tribunal do Senhor.

É a Coerência que ilumina nossas almas com a luz que nunca se apaga e por isso, se torna nosso escudo de proteção para todos que a vivem. Ela põe por terra toda falsidade, porque faz valer a verdade e a autoridade divina em nossa vida. Foi pela virtude da coerência que Natanael foi identificado por Jesus e recebeu dele o mais belo elogio entre os apóstolos, e uma especial revelação do Senhor. (cf. Jo1,43-51).

O QUE DIZER AINDA MAIS A RESPEITO DAS VIRTUDES?

Todas as virtudes com que Deus nos criou...
Foram-nos concedidas para permanecermos fieis ao seu amor,
E gozarmos da liberdade infinita em sua Presença bendita...
Por isso, abusar da misericórdia e da bondade divinas...
É deixar de viver no santo temor...
É perder-se na agonia e na dor de não amar o Senhor,
e não se deixar amar por Ele eternamente...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

SÉRIE MEDITAÇÕES: A FÉ É UM DOM DE DEUS



SÉRIE MEDITAÇÕES

A FÉ É UM DOM DE DEUS?


A fé é um dom de Deus e uma de suas leis naturais presente em todas as suas criaturas. Ora, naturalmente todos já nascem acreditando seja na própria vida, seja em algum credo que professa, seja no seguimento de alguma ideologia, seja ainda pela incredulidade ou indiferença com que alimenta sua alma; o fato é que todos creem, e isto é inegável. Porém, em todos os batizados a fé é dom do Espírito Santo que lhes concede a percepção das graças que Deus nos prodigalizou (cf. 1Cor 2,12).

Tanto na vida dos que creem como dos que não creem, a fé ou a falta dela, surte efeitos inigualáveis. Para os que creem a fé é fonte de salvação, como nos ensinou nosso Senhor Jesus Cristo: “Tudo é possível ao que crê”. (Mc 9,23). Por ela nos aproximamos de Deus e com Ele interagimos, porque, “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Heb 11,1). “Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra” (II Tim 3,17).

Ela é também uma arma poderosa na luta contra o mal (cf. Ef 6,10-18), e, juntamente com as outras virtudes, uma graça especial na conquista da vida eterna: “Mas tu, ó homem de Deus, foge dos vícios e procura com todo empenho a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Combate o bom combate da fé. Conquista a vida eterna, para a qual foste chamado...”. (1Tim 6,11-12a).

Já na vida dos que não creem, a falta de sua força salvadora, leva estes à perca do sentido eterno da vida por não amarem a Deus e nem interagirem com Ele. Visto que, “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Heb 11,6). De fato, um rastro de morte se faz presente nos corações incrédulos, pois, ao negarem a evidência divina, afirmam a impiedade e a perversidade humanas, aprisionando pela injustiça a verdade que os podia salvar. Porque, “Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar”. Assim, “Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos” (Rom 1,20.22).

Porém, nos ensina São Paulo: “Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens... Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tim 2,1.3-4).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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O Cristo de Francisco / Janete Rosane Roiek, PCC



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SÉRIE MEDITAÇÕES: O AMOR, A VERDADE E OUTRAS VIRTUDES...





SÉRIE MEDITAÇÕES

O AMOR, A VERDADE E OUTRAS VIRTUDES...

Perguntei a uma criança da catequese, o que é virtude? Ela me respondeu bem de mansinho: virtude é uma qualidade boa, frei... Nossa! Como eu fiquei feliz com essa resposta, pois percebi que o Espírito Santo fala com as crianças e por meio delas... Então, meditemos sobre algumas dessas virtudes das quais fomos dotados por Deus...


AMOR

O Amor é o fundamento de todos os dons que Deus nos deu...
A maior de todas as virtudes é amar,
amar a Deus acima de todas as coisas
e amar aqueles que Deus nos dar para amar...
Entretanto, basta a raiva, o ódio, o ressentimento...
Para macular esse precioso presente que Deus nos deu...
Portanto, o maior dom de cura é o perdão, por ele o amor permanece sempre...


VERDADE

A Verdade está dentro de todo ser humano e presente em tudo que existe...
Mesmo que alguém minta, tem consciência dela,
e sabe que a está traindo...
Então, não faça da mentira seu ofício,
porque ela será a causa de sua ruína...
Pois a mentira é como uma areia movediça,
quanto mais alguém se move nela, mais afunda e se perde...


OBEDIÊNCIA

A Obediência é a ciência daqueles que se tornam capazes de dar a própria vida, para não desorganizar o que a Sabedoria de Deus organizou...
Por isso, todo ser obediente é também humilde, porque não faz valer seus interesses pessoas, mas sim os interesses dos demais em vista dos santos interesses de Deus...
Todo ser obediente serve sempre, porque não faz a própria vontade, mas somente a vontade de Deus...


PUREZA

A Pureza de coração nos leva à visão de Deus...
“Bem aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”.
Ora, todos nós sabemos disso...
Mas por que todos não a praticam?
Por causa do imediatismo da impureza,
que faz a carne experimentar o que a alma rejeita...
E porque a alma rejeita?
Porque a impureza leva ao precipício do egoísmo...
Mesmo assim milhares e milhões caem nas chantagens psíquicas dos egoístas de plantão e se tornam também escravos do imediatismo...


FIDELIDADE

À Fidelidade se contrapõe a traição ou infidelidade...
Traço da terrível maldade de Judas contra Jesus...
O fato é que todo traidor só morre na desgraça...
A não ser que se arrependa,
peça perdão e repare sua maldade...
Caso contrário, jamais se salvará...


BONDADE

A Bondade se contrapõe à todo tipo de maldade que se comete na face da terra...
E todos temos a virtude da bondade no mais íntimo de nós, mas quantos a cultivam?
É por falta do cultivo da bondade que a perversidade tem se alastrado como peste maligna em todos os campos da vida...


HONESTIDADE

A Honestidade põe por terra a ganância, a corrupção e seus derivados, chamados falcatrua, estelionatários, corruptores e corrompidos...
A honestidade é a maior prova de nossa inocência...
E quem tem a consciência limpa, não precisar provar nada...
Estes já receberam de Deus a liberdade eterna...


GENEROSIDADE

A Generosidade é irmã da solidariedade,
esposa e mãe de todo bem que há...
Liberta dos apegos e dos medos das percas materiais...
Liberta da avareza, vileza que leva muitos à idolatria do dinheiro...
Uma alma generosa é rica em satisfação,
porque é alento para os necessitados
e porta aberta da salvação...


SIMPLICIDADE

A simplicidade descomplica tudo...
Não faz de um pingo uma tempestade,
Visto que nunca se liga na maldade de quem quer que seja...
Os simples de coração são os humildes que Deus pôs neste mundo para derrotar o cão imundo da soberba...


POR ENQUANTO FIQUEMOS ASSIM, LOGO, LOGO TEM MAIS...

Todas estas são virtudes presentes em todos nós...
Nelas encontramos a Deus e com ele convivemos...
Elas são vias de perfeição com as quais Deus nos ornou...
Por elas Ele nos comunica sua santidade,
por meio de seu Filho amado, Jesus Cristo,
caminho, verdade e vida de todos os que se exercitam pela via de sua redenção...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

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Santinho Santa Isabel da Hungria

Paz e bem!

Um santinho que produzimos
e que está pronto para imprimir (frente e verso),
cortar e dobrar:

domingo, 11 de novembro de 2012

Religião e internet: microalterações e evoluções da fé

Na religiosidade disponível na internet, a questão em aberto é: que imagem de Deus, de Igreja e de fiel é fomentada pela religiosidade ofertada nesses sites? Ainda há muito a avançar nessa reflexão.

A opinião é do jornalista e doutorando em comunicação Moisés Sbardelotto, autor do livro E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet (Ed. Santuário, 2012). A entrevista foi publicada no blog da Editora Santuário, 09-11-2012.

Eis a entrevista.
Por que decidiu escrever sobre o tema?

O interesse pela relação entre internet e religião vem da minha própria formação pessoal e acadêmica. Como cristão e católico, interessa-me perceber as novas manifestações de Deus, hoje, e como as pessoas em geral experimentam essas manifestações, também com o avanço da tecnologia e das novas formas de comunicação, gerando uma religiosidade também nova. Além disso, tanto no âmbito eclesial quanto no âmbito comunicacional, essa relação é algo ainda muito novo, pouco estudado, que traz muitas dúvidas e muitos desafios, em termos de pastoral e de prática social. Por isso, decidi encarar o desafio e tentar colaborar nesse debate.

Quanto tempo demorou para que a obra estivesse pronta? Quais foram suas fontes mais relevantes de pesquisa?

A obra nasceu a partir de minha pesquisa de mestrado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), entre 2009 e 2011, sob orientação de Antonio Fausto Neto. Entre 2011 e 2012, em eventos acadêmicos, fui aprimorando a pesquisa, no debate com outros pesquisadores e estudantes. Ao longo de 2012, a partir do interesse da Editora Santuário de publicar o texto, revisei e ampliei toda a pesquisa, “lapidando” alguns pontos, aprofundando outros. Para isso, me baseei muito nos estudos de Fausto Neto e de Pedro Gilberto Gomes SJ, ambos professores da Unisinos, que já têm diversas publicações sobre as relações entre mídia e religião. Em termos comunicacionais, foram fundamentais os estudos de José Luiz Braga, da Unisinos, de Lev Manovich e de Carlos Scolari. Outros autores – como Andrea Grillo, Antonio Spadaro SJ, Gianni Vattimo, João Batista Libanio SJ, Leonardo Boff, Mircea Eliade, Stefano Martelli – também foram muito importantes para aprofundar as questões teológicas da religiosidade e da experiência religiosa na internet.

Qual parte é mais relevante ou especial para o senhor?

Sou suspeito para responder a essa pergunta. Mas, para não cair no lugar-comum de dizer que “todo o livro é relevante ou especial para mim”, penso que, para as leitoras e leitores em geral, os capítulos 1 e 7, que abrem e encerram o livro, dão uma visão bastante ampla sobre a comunicação e a experiência religiosas na internet. No capítulo 1, por exemplo, eu relato a história de um fiel chamado Fábio, que contou, em um site católico, em um serviço chamado “Padre Online”, uma experiência religiosa muito particular que ele teve por meio da TV. Esse testemunho me indicou que, de fato, as novas modalidades de comunicação estão gerando uma nova forma de ser religioso – e a partir desse relato é que começa o livro.

Já no capítulo 7, apresento meus principais “achados”, que obviamente não são “conclusões”, já que estamos no meio do olho do furacão das tecnologias digitais. Mas são algumas primeiras aproximações e reflexões sobre a religiosidade que desponta na internet. Os capítulos intermediários também são relevantes para as leitoras e leitores que se interessam em estudar essa problemática, com bastante documentação, exemplos, imagens e referências para futuras pesquisas.

E, caso o miolo do livro não agrade às leitoras e leitores, eles poderão encontrar um material precioso na Apresentação escrita por Fausto Neto, no Prefácio de Antonio Spadaro SJ, e no Posfácio escrito por Andrea Grillo, aos quais agradeço publicamente e que trazem um aprofundamento muito importante para esse debate.

Qual é a principal ideia que o leitor terá ao acabar de ler o livro?

Permito-me citar diretamente um trecho do livro: “Se a comunicação (suas lógicas, seus dispositivos, suas operações) está em constante evolução, a religião, ao fazer uso daquela, também acompanha essa evolução e é por ela impelida a algo diferente do que tradicionalmente era. (…) Se a internet traz consigo novas formas de lidar com o tempo, o espaço, as materialidades do sagrado, o discurso e os rituais, a religiosidade como tradicionalmente a conhecemos também está mudando, e a ‘nova religião’ que se descortina diante de nós nesse ‘odre novo’ traz também um ‘vinho novo’ que caracteriza a midiatização digital (suas formas características de ser, existir, pensar, saber, agir na era digital). Junto com o desenvolvimento de um novo meio, como a internet, vai nascendo também um novo ser humano e, por conseguinte, um novo sagrado, uma nova religiosidade e uma nova religião” (p. 313-315).

Qual é o público que o senhor deseja atingir?

Todas as “mulheres e homens de boa vontade”… Mas especialmente aqueles que se interessam pelas temáticas da comunicação e da religião, e de suas inter-relações. Penso que tanto pesquisadores e estudantes, quanto fiéis e ministros de todas as religiões poderão encontrar subsídios para refletir sobre as novas religiosidades que surgem com o avanço da midiatização.

Qual foi a vivência ou experiência que o fez escrever o livro?

Foi um conjunto de fatores: primeiro, uma grande oferta e uma grande demanda de práticas religiosas na internet. Chamou-me a atenção o fato de que a grande maioria dos sites católicos que visitei ao longo da pesquisa ofereciam não apenas informações sobre a religião, mas também ambientes para que o fiel pudesse vivenciar e experimentar sua fé por meio da internet, nas chamadas “capelas virtuais”. E que inúmeros fiéis narravam suas experiências religiosas nesses sites. Além disso, o depoimento do fiel Fábio, no serviço “Padre Online”, que eu relato no livro, foi a “sarça ardente” que me apontou com clareza para a “montanha digital” à qual inúmeros fiéis sobem para se encontrar com Deus. E eu não podia ficar indiferente diante disso.

Qual é o impacto para a religião e a popularização do uso da Web e quais serão esses resultados?

Mais do que um impacto, eu percebo pequenas “microalterações” na religiosidade por meio dessas novas práticas religiosas midiatizadas, que mostram que as pessoas passam a encontrar uma oferta de experiência religiosa não apenas nas igrejas de pedra, nos padres de carne e osso e nos rituais palpáveis, mas também na religiosidade existente e disponível nos bits e pixels da internet. Formam-se, assim, novas modalidades de percepção e de expressão do sagrado em novos ambientes de culto: novas formas de manifestação de Deus (teofania) e do sagrado (hierofania), agora midiatizadas: midioteofanias e midio-hierofanias que lançam a religião para novos patamares de existência.

Ou seja, as mídias não são mais apenas extensões dos seres humanos, mas também o ambiente no qual tudo se move, inclusive a religião: um novo “bios religioso”. O que pudemos perceber, a partir disso, é que a fé vivenciada, praticada e experienciada nos ambientes digitais aponta para uma mudança na experiência religiosa do fiel e da manifestação do religioso, por meio de novas temporalidades, novas espacialidades, novas materialidades, novas discursividades e novas ritualidades marcadas centralmente por lógicas midiáticas, e que são detalhadas no livro.

Quais são as principais características de interface interacional, interação discursiva e interação ritual?

No livro, eu dedico mais de 150 páginas a essa questão, analisando detalhadamente os sites católicos nesses três âmbitos: interface, discurso e ritual. Dessa forma, tentamos compreender como se dão as interações entre fiel-sagrado para a experiência religiosa nos sites analisados.

Com relação à interface interacional (materialidades), analisamos os níveis tecnológicos e simbólicos que orientam a construção de sentido religioso do fiel a partir de quatro níveis: 1) a tela; 2) periféricos como teclado e mouse; 3) a estrutura organizacional das informações (menus); e 4) a composição gráfica das páginas em que se encontram disponíveis os serviços e rituais católicos.

Já nas interações discursivas (narrativas), buscamos compreender como o fiel se posiciona em meio à encruzilhada de “discursos” que lhe falam, pois, além de um discurso ao fiel, existe também um discurso do fiel. Esses discursos foram analisados a partir de três atores: o próprio fiel, um “outro” (o sistema ou outro internauta) e um “Outro” (o sagrado).

Nas interações rituais (práticas), analisamos a “liturgia digital” que os fiéis precisam seguir para que os rituais ocorram. Assim, o internauta passa a participar, viver, agir e interagir em uma “ambiência” religiosa nova, que o remete – seja qual for a profundidade de sua experiência religiosa, independentemente também de quando e onde estiver – para Deus.

A interação por meio da internet diminui a fé se tornando um ato de imediatismo? Ou Não?

Na internet, os processos lentos, vagarosos e penosos da espiritualidade (os “séculos dos séculos”, “até que a morte os separe”) vão sendo agora substituídos pela lógica da velocidade absoluta, por uma “eternidade intensiva”. Fomenta-se, assim, uma expectativa de onitemporalidade e de imediaticidade da manifestação de Deus. A vastidão do “tempo sagrado” é agora substituída por microinstantes, “átomos temporais” em que os sites nos exigem reações instantâneas a eventos que ocorrem na velocidade da luz.

Além disso, eu destacaria outros quatro “riscos”, quatro “pontos em aberto” na experiência religiosa online: 1) o risco de pensar que, se Deus se faz bit, o bit também é Deus; 2) o risco de confundir conexão com comunhão; 3) o risco de pensar que Deus e o sagrado estão “ao alcance de um clique”; 4) o risco de nos contentarmos com experiências religiosas midiatizadas, sem atentar para as manifestações “extramidiáticas” de Deus, especialmente no “próximo” e no “pobre”, confundindo “dizer” com “fazer”: ou seja, é importante escutar e anunciar a Palavra, mas é ainda mais importante tentar colocá-la em prática.

É possível alcançar – viver a experiência – do divino por meio da web?

Nas palavras de Brenda Brasher, se os fiéis de hoje, como o Moisés bíblico, “sobem a montanha digital”, é porque viram uma “sarça ardente” em seu topo. Por exemplo, em apenas um dos sites analisados, são acesas entre 3.000 a 4.000 “velas virtuais” por dia! Por isso, é impossível negar que essas pessoas têm uma experiência de Deus e do sagrado por meio desses rituais. Mas essa “encarnação em bits” só ganha sentido na vida do fiel – são experiências totalmente livres, íntimas, misteriosas, enão nos é permitido penetrar nessa zona de tão elevada intimidade. O que sabemos é que elas ocorrem, o que pode ser confirmado pelas próprias narrações dos fiéis nesses sites: algo ocorre, e algo sagrado.

Porém, nesses rituais, há facetas de Deus e do sagrado que mais se manifestam, e outras que se manifestam menos, experiências religiosas que são fomentadas, e outras que não o são. E tudo isso por determinações e escolhas do programador, dos próprios sites. O risco, como afirma a teóloga Mary Hunt, é de não perceber que “a linguagem sobre Deus é uma das mais difíceis e perigosas com que trabalhar, porque pode resultar em estruturas opressivas ou ser um trampolim para a libertação”. A questão em aberto é: que imagem de Deus, de Igreja e de fiel é fomentada pela religiosidade ofertada nesses sites? Ainda há muito a avançar nessa reflexão.

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