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quinta-feira, 26 de maio de 2011

VIVENDO O MISTÉRIO DA FÉ













VIVENDO O MISTÉRIO DA FÉ

Caríssimos, a vida é um dos mistérios mais enigmáticos que existe e que dele  participamos diretamente, mas não o conhecemos plenamente; aliás, mistério é tudo aquilo que nos envolve e que o vivemos de certa maneira, mas não conhecemos sua essência. Desse modo, um dos maiores mistérios que nos envolve é o Mistério da Santíssima Trindade, Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo, uma única Natureza em pessoas três; além desse Mistério Divino, temos o mistério da iniquidade; o Mistério da fé; o mistério da salvação e outros tantos mistérios; todavia, o objeto desse artigo é a vivência do mistério da fé que professamos com o nosso ser e estar no mundo.

São Paulo nos ensina: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.” (Heb 11,1). Ora, de que fé fala São Paulo? Da fé dom de Deus que nos foi dada no batismo, para participarmos da Nova Criação como filhos e filhas de Deus. É como está escrito na primeira carta de São Paulo aos Coríntios: “A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo Espírito; a outro, a fé, pelo mesmo Espírito, etc., (1Cor 12,7-9). Ou seja, a fé dom do Espírito Santo que nos capacita a vivermos o Mistério de Deus, conforme a Vontade de Deus.

Em que consiste essa fé e o que resulta na vida dos fiéis? Ouçamos São Gregório de Nissa: “Começou o reino da vida e foi dissolvido o império da morte. Apareceu um novo nascimento, uma vida nova, um novo modo de viver; a nossa própria natureza foi transformada. Que novo nascimento é este? É o daqueles que “não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da
vontade do homem, mas de Deus mesmo” (Jo 1,13).

Tu perguntas: como isto pode acontecer? Escuta-me, vou te explicar em poucas palavras.

Este novo ser é concebido pela fé; é dado à luz pela regeneração do batismo; tem por mãe a Igreja que o amamenta com sua doutrina e tradições. Seu alimento é o pão celeste; sua idade adulta é a santidade; seu matrimônio é a familiaridade com a sabedoria; seus filhos são a esperança; sua casa é o reino; sua herança e riqueza são as delícias do paraíso; seu fim não é a morte, mas aquela vida feliz e eterna que está preparada para os que dela são dignos”. (Dos Sermões de São Gregório de Nissa, bispo - (Oratio 1 in Christi resurrectionem: PG 46, 603-606.626-627) (Séc.IV).
Portanto, viver o mistério da fé é viver como nova criatura feita “à imagem e semelhança” de Deus no amor, pois aqui estamos em vista do Reino dos Céus que a cada dia se aproxima; sabemos que a nossa estadia neste mundo é de curta duração, por isso, a cada instante que passa sentimos a proximidade do dia eterno, quando nos apresentaremos ao Senhor de nossas almas para vivermos a plenitude que aqui experimentamos pela fé.

É como nos exortou São Paulo: “Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade”. (1Cor 13,10.12-13).
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“Eis que sucumbe o que não tem a alma íntegra, mas o justo vive por sua fidelidade”. (Hab 2,4).
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Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


sábado, 21 de maio de 2011

NÃO SÃO CARNAIS AS ARMAS COM QUE LUTAMOS


Caríssimos, de fato, estamos em meio a uma guerra espiritual terrível e o inimigo de nossas almas luta dia e noite com suas armas e táticas sujas a fim de nos destruir, nos afastando completamente de Deus. É como nos escreveu São Pedro: “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé. Vós sabeis que os vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós.” Ora, São Pedro escreveu isso a fim de não esmorecermos e nos mantemos alertas contra as ciladas do mal. E acrescentou ainda, para nos atermos seguros nessa luta: “O Deus de toda graça, que vos chamou em Cristo à sua eterna glória, depois que tiverdes padecido um pouco, vos aperfeiçoará, vos tornará inabaláveis, vos fortificará.” (1Pd 5,8-10).

Certo dia em uma pregação, em reação a um comportamento inadequado apresentado na assembleia, falei uma palavra fora de contexto, chamando a atenção sobre aquele comportamento; pronto, foi o suficiente para o demônio distorcer o que falei e a partir disso destruir tudo o que estava presente naquela profunda pregação e lançar muitas pessoas daquela comunidade contra mim; foi então que percebi o que o Senhor havia falado em uma de suas parábolas:” Ouvi, pois, o sentido da parábola do semeador: quando um homem ouve a palavra do Reino e não a entende, o Maligno vem e arranca o que foi semeado no seu coração. Este é aquele que recebeu a semente à beira do caminho.” (Mt 13,18-19).

Na verdade, o demônio lançou muitas daquelas pessoas contra a Palavra de Deus e contra o seu sacerdote, para afastá-las da comunhão com o Senhor e jogá-las na perdição, por meio de críticas ácidas e até de calúnias; pois ele sabe o que está escrito: “Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado.” (Mt 12,36-37). Por isso, nós pregadores e ouvintes, temos que ter um discernimento apurado, precisamos permanecer atentos para não nos deixar influenciar pelo contexto e desse modo, sabermos como o mal age contra nós e podermos anular imediatamente suas ações.

Aprendamos com São Paulo como termos um discernimento apurado, pois sobre isso ele escreveu: “Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares. Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever.

Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus. Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos. (Ef 6,10-18).

E escreveu também:” Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e o reduzimos à obediência a Cristo. Estamos prontos também para castigar todos os desobedientes, assim que for perfeita a vossa obediência.” (2Cor 10,4-6).

Por isso: “Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a palavra da vida. Dessa forma, no dia de Cristo, sentirei alegria em não ter corrido em vão, em não ter trabalhado em vão. Ainda que tenha de derramar o meu sangue sobre o sacrifício em homenagem à vossa fé, eu me alegro e vos felicito. Vós outros, também, alegrai-vos e regozijai-vos comigo.” (Fil 2,14-18).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

DEVOÇÃO MARIANA EM SÃO LUIS MARIA DE MONTFORT

















DEVOÇÃO MARIANA EM SÃO LUIS MARIA DE MONTFORT

Deus, em seu infinito amor, dispõe de seus Mistérios a nosso favor para que compreendamos melhor seus desígnios e vivamos em conformidade com sua vontade neste mundo. Dentre esses Mistérios de Deus, encontra-se o Mistério da Encarnação. Com efeito, o Senhor uniu a natureza divina de seu Filho Jesus à nossa natureza humana em Maria, pela ação do Espirito Santo, nos fazendo participar de sua divindade diretamente, por meio da redenção realizada por Jesus em seu sacrifício de cruz. A união perfeita da natureza divina de Jesus à natureza humana de Maria nos dá a certeza da nossa salvação definitiva, pois nossa carne já está glorificada em Jesus e Maria nos Céus.

Ao longo da história da Igreja, Deus concedeu aos santos e santas a compreensão desse preciosíssimo mistério da união perfeita entre seu Filho Jesus e sua mãe, a Virgem Maria, por isso, suscitou pelo Espírito Santo as devoções que a Igreja tanto recomenda aos seus filhos e filhos a fim de que vivamos como família de Deus. Dentre esses santos encontramos São Luís Maria Grignion de Montfort, grande devoto da Santíssima Virgem e autor do Tratado da Verdadeira Devoção.

O "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", certamente é a mais importante das obras teológicas sobre a devoção à Virgem Maria. Essa devoção se fundamenta em dois princípios: 1) Deus quis servir-se de Maria na Encarnação, ou seja, o Verbo de Deus se fez homem através de Maria, com o consentimento d'Ela, com a participação d'Ela. O Pai pediu sua anuência; o Filho habitou seu seio; o Espírito Santo a cobriu com sua sombra (cfr. Lc 1,35); 2) Deus quer servir-se de Maria na santificação das almas. Pois sendo Ele invariável em sua conduta, é ainda e sempre através de Maria que forma Jesus Cristo nas almas. Ele continua sendo o "bendito fruto" de seu ventre e "é certo que Jesus Cristo para cada homem que o possui em particular, é tão verdadeiramente fruto e obra de Maria, como o é para todo o mundo em geral" (TVD, 33). Por isso a devoção à Santíssima Virgem é necessária a todos os homens para a salvação e, muito especialmente, àqueles que são chamados a uma perfeição particular". (TVD, 40-43). (*)

A verdadeira devoção à Santíssima Virgem tem, segundo São Luís, cinco características:
1) Ela é interior, ou seja, vem do espírito e do coração, fundamentando-se numa ideia adequada do enorme papel representado por Maria no plano da Redenção, e num amor coerente com essa ideia; 2) Ela é terna, gerando na alma uma grande confiança, que faz recorrer a Maria em todas as suas necessidades, como uma criança recorre a sua mãe; 3) Ela é santa, isto é, faz com que se evite todo o pecado e se imitem as virtudes da Santíssima Virgem; 4) Ela é constante, consolidando a alma no bem e fazendo com que não abandone facilmente o caminho iniciado. 5) Ela é desinteressada, inspirando a alma a buscar mais a glória de Deus que suas próprias vantagens.
Todas essas notas, São Luís as reúne na prática que chama de escravidão de amor à Santíssima Virgem, pela qual se entregam a Maria todos os bens interiores e exteriores, para que de tudo Ela disponha segundo o agrado de Deus. (*)

Portanto, “Em Maria e por Maria é que o Filho de Deus se fez homem para nossa salvação. Logo, Jesus Cristo veio ao mundo por meio da Santíssima Virgem, e por Ela deve também reinar no mundo" (TVD). Nessa frase simples se resume todo o programa de São Luís para a aquisição da sabedoria e a consequente instauração do reino de Cristo nas almas e na sociedade. Maria Santíssima, Mãe da Sabedoria Encarnada, é o melhor caminho para encontrar o Filho de Deus.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.





segunda-feira, 16 de maio de 2011

Convocatória Ecuménica Internacional por la Paz (CEIP)

La CEIP tiene como objetivo dar testimonio de la Paz de Dios como don y responsabilidad de la oikoumene. Se trata de evaluar y fortalecer la posición de las iglesias en relación con la paz, de promover la creación de redes de contacto y de ahondar en nuestro compromiso común en favor de la paz y la reconciliación.
Objetivos: afirmar las cuestiones en que se puede convenir; identificar los temas que requieren más debate; recomendar ejemplos fructíferos e iniciativas prometedoras; iniciar servicios prácticos para grupos comprometidos.

Domingo Mundial por la Paz

El domingo, 22 de mayo de 2011, en un acontecimiento mundial, las iglesias de todos los rincones del mundo están invitadas a celebrar el don de la paz que nos da Dios. Unaoración por la paz, escrita por los anfitriones caribeños de la CEIP, ha sido traducida a muchos idiomas.

Hino Oficial da Beatificação de Madre Maria Clara do Menino Jesus

Sábado próximo, dia 21, as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição estão de festa e este é o hino para este dia:

sábado, 14 de maio de 2011

A ÚLTIMA PALAVRA

















A ÚLTIMA PALAVRA

Amor incondicional...
É a verdade latente em nossa vida...
Pelo que somos naturalmente...
e pelo que havemos de ser eternamente...
Certo é que ninguém pode contra o que Deus quer...
Porque o saber e o agir humano sem a graça de Deus, não é nada...
É só uma estada sem rumo...
perdida no confuso mundo em meio ao qual Cristo foi sacrificado...

Mas, a ressurreição do Senhor...
confundiu e aniquilou os intentos do mal...
que nada entendeu porque pensou que a morte era o seu triunfo...
E, no entanto, o amor prevaleceu...
Venceu a dor por meio de seu sacrifício de cruz...
E assim Jesus tornou possível o ser humano redimido...
Iluminado, amado e querido por Deus Pai...

Portanto, é Jesus o preço da nossa redenção...
Por Ele alcançamos o perdão dos pecados...
E nos tornamos filhos e filhas de Deus,
a caminho do Reino dos Céus,
morada definitiva dos eleitos,
agora feitos santos para sempre...

Vem, Senhor Jesus, estamos a tua espera...
Cumpre plenamente o plano de nossa salvação...
Realiza com tua santa mão a justiça de Deus,
o Pai de nossas almas...
Porque sabemos que é tua a última palavra...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Beatificações e canonizações?!... Algumas indiscrições

"A Igreja fundada por Jesus e pelos 12 Apóstolos, era um Igreja de Mártires e também uma Igreja de pobres. Por isso minha opinião pessoal é que beatificações ou canonizações segundo o perfil do último beato que é João Paulo II, não corresponde mais ao sonho de Jesus pois ela teima em não ser de mártires nem de pobres como aquela que saiu da mão do Divino Fundador", escreve Antônio Cechin, irmão marista, ao recordar o tempo em que trabalhou na Cúria Romana na então Sagrada Congregação dos Ritos.
Antonio Cechin é irmão marista, miltante dos movimentos sociais, autor do livro  Empoderamento Popular. Uma pedagogia de libertação. Porto Alegre: Estef, 2010.
Eis o artigo.

Amainado o tsunami provocado pela audácia e pela pressa de Bento XVI em beatificar seu antecessor papa João Paulo II, cuja processualística foi desencadeada no próprio dia da morte, acontecida há seis anos, me atrevo, dentro da oitava litúrgica do novo Beato, a entrar com minha colher torta.

Na qualidade de religioso marista obediente, coube-me a tarefa de trabalhar durante dois anos na Sagrada Congregação dos Ritos, dicastério da Cúria Romana encarregado da Liturgia e ao mesmo tempo das Causas de beatificação e canonização. Trabalhei no Vaticano nos anos de 1960 a 1962, durante o pontificado de João XXIII, exatamente no período preparatório do Concílio Ecumênico Vaticano II.
Compulsando na época, diariamente, o “Osservatore Romano”, jornal da Santa Sé, acompanhei ao longo de vários meses, passo a passo, as nomeações que Papa Giovanni largava em doses homeopáticas para a imprensa, dos clérigos, peritos em ciências teológicas, historiadores, etc. que teriam pela frente a tarefa de preparar o Concílio anunciado. Não raro os meios da Cúria que eu freqüentava, passavam por verdadeiro calafrio quando nomes de peritos conciliares, escolhidos pelo pontífice, eram de algum teólogo catapultado do ostracismo em que se encontrava desde o tempo de Pio XII, papa anterior a João XXIII, ou até de tempos mais longínquos. Não era pouca coisa, da noite para o dia, passar de uma espécie de “teólogo maldito” para as honras de teólogo conciliar.

Minha função na Sagrada Congregação dos Ritos era de secretário particular do Promotor Geral da Fé, popularmente chamado de “Advogado do Diabo” pelo papel que, como Promotor, desempenhava nos processos de beatificação e canonização. Era ele o defensor de uma santidade autêntica, praticada necessariamente em grau heróico, pelos candidatos aos altares, a fim de terem garantidas as qualidades para serem propostos como modelos para todo e qualquer cristão. Em outras palavras, o Promotor Geral da Fé, forçava a Postulação a comprovar a prática das virtudes teologais e cardeais, dos valores autênticamente humanos e cristãos não de maneira simples e comum, mas em grau heróico. Assim como o Promotor de Justiça em qualquer processo da sociedade civil, o Promotor Geral da Fé – advogado do diabo – procurava garantir a ortodoxia, isto é, as leis, os dogmas, a moral e as virtudes de uma modelar vida cristã. O povão desde séculos designa como “advogado do diabo” o personagem da processualística, encarregado de “dar o contra” a quem aspira às honras dos altares, passando a desempenhar o papel de “satanás” por oposição à pessoa candidata a “santo”.

Nos idos de 1960, as coisas ainda eram muito rígidas na Cúria Romana. Nos dois anos em que lá atuei, só houve três canonizações e nenhuma beatificação. Foram proclamados santos  Gregório Barbarigo, Bertilla Boscardin e Juan de La Ribera. Os dois primeiros italianos e o terceiro espanhol. Por sinal, naquela época, um postulador que me visitava me dizia: “para ser santo se necessitam três qualidades: ser italiano, ser italiano e ser italiano.” Como para me explicar que aqueles mais próximos da “máquina” constituíam maioria dentro do catálogo.

Sabemos que o papa João Paulo II, facilitou enormemente a processualística dos caminhos para a honra dos altares. Como parte de sua ênfase especial na vocação universal à santidade, beatificou 1.340 pessoas e canonizou 483 santos, quantidade maior que todos os seus predecessores juntos pelos cinco séculos passados.

Não deixa de ser inusitado o fato de um Papa como Bento XVI beatificar seu antecessor imediato e em tempo recorde. Pelo pouco que conheço de história da Igreja, me atrevo a afirmar que é a primeira vez que isso acontece, excetuando-se naturalmente o tempo dos primórdios Igreja – a do tempo dos apóstolos – quando, bastava alguém tombar como mártir para, pelo fato mesmo, ser invocado como santo, sem necessidade de processo de espécie alguma, canonizado que está pelo Mestre Jesus de Nazaré quando proclama: “Não há maior prova de amor do que dar a vida por aqueles a quem se ama!”. Sofrer o martírio, como o Nazareno, é santidade por excelência.

No ano de 1960, tramitavam, na “fábrica dos santos” da qual eu também era um humilde serviçal, em torno de mil e quinhentos processos. Tinha-se a nítida impressão de que a Igreja não fazia muita questão de acrescentar novos santos ao calendário litúrgico. Talvez o pequeno número de novos bem-aventurados e santos, também se devesse ao fato de haver um afunilamento dentro da sistemática dos processos. A Promotoria Geral da Fé era esse funil. Uma única pessoa, o advogado do diabo, tinha que ter o domínio total de cada uma das causas, tais como os detalhes biográficos do personagem, o contexto histórico da época em que viveu, a análise dos escritos, os pareceres dos teólogos que os haviam julgado, os pareceres dos peritos médicos a respeito dos milagres, etc. Tudo, absolutamente tudo, tinha que passar por ele. Naqueles anos era Advogado do Diabo, um franciscano de nome Antonelli. Qualquer documento que viesse endereçado ao homem-chave da Congregação, também passava por minhas mãos e meus olhos, quer fossem relativos à heroicidade das virtudes, quer aos pareceres dos peritos médicos sobre as curas “milagrosas”, etc.

Com relação aos milagres, logo que cheguei junto à Congregação, quis matar minha curiosidade perguntando a meus colegas de trabalho o que achavam de uma Teresa Neumann, religiosa na Alemanha, que aqui no Brasil era muito badalada e dela diziam alimentar-se exclusivamente da hóstia consagrada no sacramento da Eucaristia e nada mais. Interroguei depois outro colega sobre Frei Pio, um religioso capuchinho italiano que, aqui no Brasil, se apregoava como sendo alguém de confessionário o dia inteiro, com penitentes que lhe chegavam de todo o mundo. Os que com ele se confessassem, nem precisavam contar-lhe os pecados porque os conhecia de antemão, sem necessidade de serem verbalizados.

Meus colegas de trabalho deram de ombros, como quem estranhasse minhas crendices. Fui caindo na real à medida que ia datilografando os relatórios dos peritos médicos contratados pelo Vaticano e que se haviam debruçado sobre os “milagres”, todos sem exceção de curas de alguma doença.

Na verdade os peritos médicos escolhidos pela Congregação, eram os melhores em cada ramo da medicina, existentes em Roma. Pelo fato mesmo eram pessoas muito bem pagas. Em nenhum parecer médico, jamais descobri que algum deles afirmasse tratar-se de milagre ou cura milagrosa. Quem declara se é milagre ou não, para fins de beatificação ou canonização, é uma equipe de cardeais com a palavra final do próprio papa. Médico tem que ficar na ciência médica. Milagre, se tem uma dimensão de quebra das leis da natureza, algo sobrenatural, isso é do terreno da fé ou da teologia mas não da ciência. Em relação ao perito médico vale aqui em face do milagre, a famosa sentença do pintor grego a um sapateiro que contemplando o quadro pintado, havia feito uma crítica da sandália que o personagem tinha no pé. O artista lhe atalhara, no instante mesmo da critica: “sapateiro não te atrevas a julgar acima da sandália!”

Depois do meu estranhamento inicial em relação a fatos relativos a “santos” milagreiros, que considerava pelo menos fora do comum, fui aos poucos me convencendo de que tudo estava em seu devido lugar. Médico tem que ficar exclusivamente no campo da ciência. E em qualquer ciência há muitos espaços em relação aos quais campeiam as ignorâncias. Nesses seus relatórios, os médicos debruçados sobre curas, julgam somente sobre documentos bem objetivos: o histórico da doença, os exames médicos realizados, os remédios ou drogas ministrados ao longo do tempo, os diagnósticos, etc. etc. Nem pode ser diferente.

Mais tarde, como catequista, fui descobrindo que, no Evangelho, Jesus ficava triste quando lhe solicitavam algum milagre como quebra das leis da natureza. Quando algum “sinal” feito pelo Mestre, causava estupor, vinha a explicação “foi a tua fé que te salvou!” A multiplicação dos pães, milagre como quebra das leis da natureza? Jesus recolocou as coisas em seu devido lugar quando disse: “Vocês estão me procurando só porque vos alimentei de pão!”

Milagre ou melhor um “sinal”, na Bíblia, é sempre um ato de amor profundo. Lembremo-nos daquela passagem evangélica em que gente do povo pergunta a Jesus face a um estropiado: “Mestre, quem é que pecou? Foi ele ou foram os pais dele?” E Jesus, com a maior naturalidade: “Nem ele, nem os pais dele. Isso acontece a fim de que se manifeste a glória de Deus.” Face às desgraças de hoje, de sofrimentos incríveis, de pessoas mutiladas, etc. vemos e tocamos que inúmeras pessoas, com imenso amor, se dedicam totalmente a ajudar, em meio a tanto sofrimento. É “a glória de Deus se manifestando através de muito amor” pois Deus é puro Amor.

Pudemos então, trabalhando na Cúria, nos dar conta de que em nossa Santa Madre Igreja Católica, Apostólica e Romana, tudo é humano, muito humano mesmo. E é apenas em fatos humanos do cotidiano que podemos ler transparências daquilo que também tem algo de divino. Essa transparência é vislumbrada através da chamada “leitura dos Sinais dos Tempos”, preconizada pelo Mestre Jesus e que foi recuperada para nossos dias, pelo saudoso Papa João XXIII.

Aos poucos, dentro de meus trabalhos congregacionais romanos, também fui me dando conta de que havia uma política vaticana ou papal para beatificar ou canonizar este ou aquele candidato às honras dos altares.
Uma vez por mês, o Promotor Geral da Fé – advogado do diabo – tinha audiência com o Papa.
Dia seguinte recebíamos tarefas preferenciais em cima de Causas assinaladas pelo Pontífice. Me vem à lembrança que umas duas ou três vezes a prioridade papal assinalava um fundador de congregação feminina do norte da Itália, se não me engano de nome Guanella, cujas religiosas tinham sido trazidas pelo Papa Giovanni, para os cuidados domésticos em seus aposentos, no Vaticano. Imagino o bom Papa Giovanni se cruzando seguidamente com alguma das irmãzinhas a lhe suplicar: “Santo Padre, e o nosso fundador? Não dá para dar uma apressadinha na sua beatificação?”. Aliás nada de estranho, porque eu mesmo havia sido alavancado da cidade de Paris, aonde começava meus estudos de pós-graduação, diretamente para o Vaticano para, como me dizia o postulador da minha congregação, “fazer com que, na pilha dos processos beatificatórios  eu conseguisse colocar um pouco mais para cima o processo de nosso hoje santo fundador”.

Doutra feita, um postulador do norte da Itália me explicou o porquê de estarmos nós, os funcionários da Santa Sé, a desentulhar uma causa de Canonização de um cardeal, já com o título de bem-aventurado há muitíssimos anos, tendo vivido a uns 3 ou 4 séculos atrás. É que Papa Giovanni, como arcebispo-patriarca de Veneza, circunscrição eclesiástica em que nascera e vivera nosso candidato a santo, quando Papa Roncalli era ainda Arcebispo Pariarca desta cidade, havia confidenciado a esse Postulador: “Se io sono Papa, Barbarigo è santo!” (Se por acaso eu ficar Papa, Gregório Barbarigo será santo!). Dito e feito. João XXIII, para garantir seu candidato veneziano à honra dos altares, nos deu ordem de concluir o processo e dispensar o milagre que o direito canônico exige para a canonização. Meus colegas funcionários, lembro bem, vieram também ao meu gabinete de trabalho – imaginem só – a fim de me convidar para uma greve. Sim senhores. Uma greve da Congregação dos Ritos do Vaticano.

Alegavam: se adotarmos esse princípio de dispensa até de milagre, amanhã teremos aqui nas nossas salas dezenas de postuladores a reclamar o mesmo direito para seus candidatos aos altares. 

Aí eu fiz a experiência de que Papa, na Igreja, pode tudo e mais alguma coisa. Por isso, Papa Giovanni não era bem o que diziam meus vizinhos de escritório acostumados a designá-lo como “papa de transição.” Ao ser alertado da tentativa grevista da Congregação, mandou um convite de caráter pessoal, com assinatura de próprio punho - coisa totalmente fora de costume - para cada um dos funcionários do dicastério. Face a tal convite em caráter pessoal, a greve se evaporou. Lá estávamos todos no cortejo papal, no dia marcado, bem à frente da “sédia gestatória”, sem faltar absolutamente nenhum.

Nosso Bispo-Profeta Dom Hélder Câmara realizou a iniciação da Igreja Latino-Americana à opção pelos pobres, por ocasião do Concílio Vaticano II. Enquanto a Assembléia máxima do episcopado mundial realizava triunfalmente seu encerramento na Praça São Pedro defronte à grande Basílica dentro da qual a tradição diz que o primeiro chefe da Igreja nomeado diretamente por Jesus, foi sepultado depois de crucificado de cabeça para baixo,  Dom Hélder rodeado de 80 irmãos do bispos, firmava o pacto das Catacumbas, com isso significando que desejava reconciliar a Igreja dos nossos dias, com a Igreja do tempo das perseguições, isto é, com a Igreja dos Mártires do primeiro século, profetizando assim uma nova leva de mártires em toda a América Latina.

A meu ver, a Igreja do primeiro mundo, a Igreja da Europa e todas as demais Igrejas conservadoras do mundo, teimam até hoje, em não fazer sua reconciliação com a Igreja dos primórdios. A Igreja fundada por Jesus e pelos 12 Apóstolos, era um Igreja de Mártires e também uma Igreja de pobres. Por isso minha opinião pessoal é que beatificações ou canonizações segundo o perfil do último beato que é João Paulo II, não corresponde mais ao sonho de Jesus pois ela teima em não ser de mártires nem de pobres como aquela que saiu da mão do Divino Fundador. Santos, a rigor, para mim são em primeiríssimo lugar os que, segundo o Evangelho de Jesus Cristo, “aqueles que deram a maior prova de amor, entregando a vida pelas pessoas que amavam.” Nesse ponto, o bem-aventurado João Paulo II, deixou de ser Papa modelar para nós cristãos da América Latina ao demonstrar com gestos de desamor suas relações com nosso bispo-mártir San Romero de América.

domingo, 1 de maio de 2011

A MAIS SUBLIME VERDADE SOBRE A VIDA














A MAIS SUBLIME VERDADE SOBRE A VIDA

Caríssimos irmãos e irmãs, nós que aqui estamos, celebramos a vitória do Senhor Jesus sobre o pecado, sobre a morte e sobre todo mal, pois, Deus nos criou unicamente para o louvor de sua glória e é por essa vitória de Seu Filho amado que nos faz participar dela desde já. De fato, a humanidade conheceu pela ressurreição de Cristo, a mais sublime verdade sobre a vida, a imortalidade, que concretiza a realização da firme esperança alimentada por todas as gerações que se depositaram em Deus, a começar por Abraão, o pai da fé. Ora, essa graça infinita nos é concedida por Deus mediante a ação do Espírito Santo quando de nosso batismo, pois, a primeira experiência que temos ao recebermos este sacramento é a nossa participação na natureza divina (Cf. 2Pd 1,4), isto é, na ressurreição de Jesus, o Senhor da vida.

Foi isso que nos ensinou São Paulo, na sua carta aos Romanos: “Por acaso, ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição”. (Rom 6,3-5).

De fato, nós que convivemos em meio à experiência da morte natural diariamente, precisávamos ter, da parte de Deus, a certeza da ressurreição de Cristo e da nossa ressurreição em Cristo, pois, sem essa convicção só teríamos uma certeza, a de que estamos vivos e haveremos de morrer; e o pior, sem esperança alguma. No entanto, com a graça da ressurreição gravada em nossas almas, passamos à uma nova condição existencial, a de ressuscitados com Cristo, formando com Ele um só Corpo, a Igreja, para darmos testemunho da Obra da Redenção, realizada por Ele definitivamente  no patíbulo da cruz, em expiação dos nossos pecados.

Com efeito, é o que nos ensina São Paulo na carta aos Efésios: “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça que derramou profusamente sobre nós, em torrentes de sabedoria e de prudência. Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade, para servirmos à celebração de sua glória, nós que desde o começo voltamos nossas esperanças para Cristo. Nele também vós, depois de terdes ouvido a palavra da verdade, o Evangelho de vossa salvação no qual tendes crido, fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor da nossa herança, enquanto esperamos a completa redenção daqueles que Deus adquiriu para o louvor da sua glória”. (Ef 1,7-8.11-14).

Portanto caríssimos, podemos afirmar com toda certeza que a nossa alegria é completa, pois, Aquele que nos redimiu está conosco e nos alimenta com o seu Pão de vida eterna, nos fazendo participar diretamente do grande Mistério da salvação, por meio de sua submissão amorosa à vontade do Pai. Assim, com ele ressuscitados, somos por ele conduzidos à plenitude de Sua Glória no Reino dos Céus, a Nova Criação.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.
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Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória”. (Col 3,1-4).
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